Liga dos Campeões : Ato III — FC Porto x Marselha — Mais dúvidas do que certezas.

Remy Martins
4 min readNov 3, 2020

Hoje o Porto entra em campo para defrontar o Marselha para a terceira jornada da Liga dos campeões com mais dúvidas do que certezas.

Depois do desaire na capital do móvel, o Sérgio Conceição salientou que não é por petições que ia meter um jogador ( falando do Taremi) e logo, percebemos, que também não é por petições que ia trazer versatilidade e imprevisibilidade aos planos de jogo (será que podemos usar essa palavra no plural) que parecem ser iguais, sem alternativas e demasiados estereotipados (paradoxalmente só o jogo contra o Gil trouxe alternativas coerentes quer no sistema, quer nas dinâmicas com bola).

Estrutura e dinâmica :

Como apresentar-se-á a equipa de Sérgio Conceição ? Qual será o ponto de partida ?

A priori, voltaremos à organização tradicional do FCP versão Sérgio Conceição. Com bola, um 1x4x3x3 assimétrico com dinâmicas já há muito tempo identificadas.

Manafá a explorar todo o corredor para dar largura e Corona mais por dentro. Do outro lado as dinâmicas posicionais podem ser as mesmas também com Zaidu x Otavio. Com Luis Diaz, talvez menos porque tem no movimento de fora para dentro uma das suas melhores armas ( é rever o golo apontado perante o City).

No meio campo, dois homens (Uribe x Sergio Oliveira ?) e no ataque, o verdadeiro Casus Belli deste Porto de Conceição, mais uma titularização do Marega (que não faz absolutamente nada para merecer tanta consideração), com Evanilson ?

E o ponto de chegada ? O quê que procura Conceição ?

Olhamos para a dinâmica implementada.

Em primeiro lugar há clara vontade de dar largura ao seu jogo. Isto é demasiado óbvio e até coincide com o que referimos anteriormente em termos de previsibilidade de jogo. Portanto, algo paradigmático dos desempenhos do Porto dentro de campo é que, inúmeras vezes, percebe-se que existe uma carência em termos de linhas de passe que permitem atrair para descobrir. Essas linhas de passe, no corredor central, quase nunca aparecem.

— > Primeira fase de construção : dificilmente vamos encontrar fases em que o Porto abdica da lateralização do seu jogo. De facto, são inúmeras vezes onde os centrais (ou um dos médios que vem encaixar no meio dos centrais) vão procurar os laterais sem considerar o corredor central para sair da primeira linha de pressão contraria.

— > Produção ofensiva : A criação ofensiva passa quase único e exclusivamente pelos corredores laterais. Poucas vezes ou nunca se vê tabelas, situação de criação em 2x1 por dentro. Não se aproveita o posicionamento do terceiro homem nas entrelinhas ( Corona, Otavio, etc).

— > Circuito preferencial : progredir usando a largura conferida pelos laterais e procurar situações de cruzamento ou bolas na profundidade tentando aproveitar movimentos de ruptura do Marega entre lateral e central…

— > Versatilidade : Porque é que não se adopta e se prepara diferentes formas de decidir em construção em relação ao que o adversário faz na pressão ? Aqui há a uma noção de intencionalidade, para chegar ao que nós queremos, realmente importante.

Se eles pressionam a nossa primeira fase de construção com 1 jogador é diferente do que com 3. Se pressionam com 1 não existe clara necessidade de construir em 3+1 ou 3+2 porque o médio ou o lateral, que tem capacidade na tomada de decisão, acabará por não ter tanta influência na progressão ofensiva. Nesse contexto é preferível que essa qualidade seja exibida entrelinhas para atrair a pressão e libertar espaços para explorar.

Considerando isso, essa vertente estratégica de nos adaptar e decidir em construção, em função das dinâmicas do adversário, é algo que falta ao Porto. Não há um modelo de jogo evolutivo, não há imprevisibilidade e consequentemente, dificilmente se cria desequilíbrios ( a não ser com invenções duma individualidade : demasiado “ Corona dependência “.)

E quando não se tem a bola ?

12 golos sofridos desde o inicio da época. 1,5 golos por jogo. Algo invulgar, não é ?

— >Dificuldades em transição : O FCP dificulta-se a vida na reação a perda e peca na identificação das referências de transição do adversário. Por essa razão acaba por conferir ao adversário uma facilidade na saída da pressão.

Além disso podemos identificar outro problema que é o controlo do espaço entre linhas na transição onde essas mesmas aparecem demasiadas esticadas devido a um bloco muito passivo.

É uma realidade que o Conceição disse ter identificado e que trabalharam para a corrigir. Logo veremos se houve, já, melhoria.

O que pode ajudar a evoluir, melhorar e inovar ?

Há pensadores do jogo e os que o conseguem o compreender de forma quase intuitiva. Criatividade, critério e vertente cognitiva.

Nesse sentido, basta olhar para o banco e perceber que os jogadores mais capazes em termos de tomada de decisão não são os imprescindíveis do modelo de jogo.

— > Nakajima, Baro, Taremi, Fabio Vieira (só apareceu no XI depois dos problemas físicos do Otavio antes do jogo perante o Man City)…

Enfim, hoje é mais um teste decisivo com dimensão europeia. O Marselha também apresenta bastante carências no seu jogo e será, muito provavelmente, um jogo onde a vertente tático-técnica definirá o desfecho desse mesmo.

Rémy Martins

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Remy Martins

Futebol, paixão pelo jogo e pela forma de o jogar. « Le football doit être plus que seulement gagner »