Rodrigo Mora, uma panaceia para os preconceitos.

Remy Martins
3 min readSep 20, 2023

O talento convoca mediatização mas já lá vai algum tempo que os dotes do mais jovem de sempre em atuar num dos dois primeiros escalões profissionais em Portugal, começaram em serem exibidos. Ontem, ainda se destacou, através da precocidade, com um bis ao Shaktar na Youth League que o entronizou como o mais jovem português de sempre à marcar pelo menos dois golos na competição (16 anos e 4 meses). Além desse feito, é a arte que produz dentro das quatro linhas que suscita uma atenção particular, coincidente com a vertente mais emocional.

A idade não define qualquer teto de vidro para os diferenciados e a idiossincrasia do jovem portista faz eco à aquela dos que costumamos denominar como « distintos », « singulares » ou até « eleitos ». Nesse contexto, ainda mais, não é um número que guia o que se tem de fazer. O amor pelo jogo corre-lhe nas veias, alias até tem dimensão genética vinda do pai que foi jogador. Os primeiros passos como jogador foram no pátio e na garagem, com o pai e até com a avó. Premissas duma relação íntima e primorosa com o esférico onde se desprende uma paixão natural, ingénua.

A sua ligação ao FC Porto começou aos 9 anos e o prólogo ligado ao mundo profissional já deixa algumas indicações sobre a obra que poderá ser escrita. Seja à partir da ala esquerda ou como falso nove, evidencia aquela sabedoria tácita de vagabundear com sentido e assumir o protagonismo e as responsabilidades na hora de criar. Libera espaços, arrasta defesas, provoca confusão na organização contrária e gere situações de superioridade numérica posicional ou qualitativa. Isto tudo induz consequências para o rival. Além disso, reivindica a associação e faz da procura do desequilíbrio, no ultimo terço contrário, uma prioridade. Pode tornar isto factível à nível individual, pela astúcia corporal ou através de recursos técnicos e cognitivos que o tornam auto-suficiente, como à nível colectivo na forma como usufrui da associação e da empatia inata com os que partilham as suas zonas de predileção. Tem golo e o altruísmo que lhe é próprio faz com que seja um parceiro de valor para qualquer um. Além disso a sua polivalência desafia o statu quo sobre uma função única e exclusiva. Faz parte do encanto que desencadeia.

Também, a inteligência natural na tomada de decisão e a facilidade em desequilibrar ajudam-lhe em tonar factível, com alguma regularidade, a tendência em poder mudar o cenário dum jogo. A sensação que transmite é daqueles que conseguiram desmistificar os segredos da máquina do tempo e, consequentemente, assimilaram uma sabedoria cognitiva / interpretativa que os sobrepõem sobre a maioria.

No que toca à referências, Otavio, Messi ou até Ronaldo suscitaram emulação e ajudaram, de forma indireta, no processo de florescência do miúdo.

« — Sentes que tens características que esses jogadores possuem e com as quais te identificas ?

O Messi porque é um génio que faz o que quer com a bola e, às vezes, também o consigo fazer » (Entrevista no canal Youtube do clube *)

Enfim, o Rodrigo já é uma realidade bem patente como jogador (ainda perfectível como é óbvio), que brinca com o presente e nos deixa sonhar com o amanhã.

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Remy Martins

Futebol, paixão pelo jogo e pela forma de o jogar. « Le football doit être plus que seulement gagner »