𝐅𝐂 𝐏𝐨𝐫𝐭𝐨 𝐯𝐬 𝐀𝐧𝐝𝐞𝐫𝐥𝐞𝐜𝐡𝐭 – 𝐀 𝐬𝐨𝐥𝐮𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐭𝐚𝐥𝐯𝐞𝐳 𝐬𝐞𝐣𝐚 𝐭𝐞𝐫 𝐟𝐞́ 𝐧𝐚𝐪𝐮𝐢𝐥𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐬𝐞 𝐬𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐦𝐚𝐬 𝐕𝐢́𝐭𝐨𝐫 𝐧𝐚̃𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐞𝐜𝐞 𝐬𝐞𝐫 𝐝𝐞 𝐦𝐮𝐢𝐭𝐚 𝐜𝐫𝐞𝐧𝐜̧𝐚.
Se não há nada melhor que ser aclamado pela tua identidade (dixit Cruyff) então não há nada pior do que ser vaiado sem poder apoiar-te no que te define, sem saber que equipa queres ser. São tempos onde parafrasear-me virou hábito : ninguém cresce na dúvida e as incertezas do mister são cada vez mais notórias. Essas mesmas também são transmitidas dentro do vestuário.
O primeiro lance do jogo foi, por si só, muito sintomático do quão prejudicial é o contexto para com os critérios primordiais : intenções, associação/interração e informação/comunicação.
Confia-se em demasia nas decisões que concedem excessiva importância ao fortuito, ao que não controlamos.
Tradicionalmente, as superioridades geram-se a partir de trás e não através das bolas longas onde 90% das vezes, por culpa da nossa ingenuidade, proporcionamos o melhor contexto para quem pretende defender a sua baliza (duelos aéreos, encarados de frente para o jogo, onde é complicadíssimo perder a vantagem posicional / situacional).
Sem se preocupar pelo pós perda, lutando contra a vantagem concedida ao adversário (contra movimento) foi a amostra mais clara, ao adversário e a nós mesmos, dum processo de auto-flagelação e duma fraqueza que só foi latente durante 10 segundos.
Nas sequências de posse, apareceram os problemas (agora) endémicos : não existe padrões semióticos e estruturais para que flua qualquer modelo de jogo.
As possibilidades de conformação de espaços são limitadíssimas devido ao menosprezo do jogo interior.
Procura-se, inexoravelmente os corredores laterais : na saída desde trás, acaba por facilitar o processo de quem pressiona porque quem recebe aí só pode usufruir de duas opções pela restrição inerente à linha lateral : por dentro (o que muitas vezes não é viável com o FCP) ou por trás já que a opção da frente é forçosamente sobre pressão (de costas para a baliza e com desvantagem para com a direção da pressão).
A forma como se ataca tem um peso determinante, por causa e consequência, na forma como se defende.
É o tal de “Mais rápido ela vai, mais rápido ela volta” (dixit Juanma Lillo).
Quais são as incidências ? Como não há uma intenção em desenvolver gradualmente o jogo, aproximando linha anterior da posterior, costuma-se perder estabilidade porque no pós perda as distâncias entre linhas e jogadores são alargadas.
Consequentemente, não permite uma reação forte à perda (tentativa de recuperação na zona onde se perdeu). Sem uma ideia (e vontade) nítida, sem iniciativa no processo de construção e sem o auxílio de todos os jogadores (não só os mais próximos do possuidor) será sempre difícil superar linhas contrárias.
Outro pormenor bastante pernicioso é a incansável vontade em ter os dois homem, em frente dos que assumem a saída desde trás, numa situação de paralelismo (Eustaquio – Nico, na maioria dos casos).
A hierarquização das alturas é problemática e Pepê, a quem é conferida a maior liberdade de movimento não ajudou a modificar o entorno do jogo para gerar espaços entre linhas e usufruir das tentativas de distração / atração dum Nico ou Eustaquio. Na hora de intentar gerar situações benéficas através da construção, o Porto fica muito aquém.
Samu também não ajuda com um hipotético auxílio “de cara” porque não faz parte dos prescritores do seu jogo. Pelo contrário, é a personificação dum convite para que haja vários jogadores em frente da linha da bola.
Trata-se da desesperação por chegar até a área contrária da forma mais rápida e não através do que nos dá maiores possibilidades de actuação colectiva.
Como não se valoriza os três espaços do campo para progredir, intentar encontrar ordem através da bola e assumir o risco, fugindo do burocrático, caímos na dependência.
Dependência de quem ilumina na obscuridade através da sabedoria técnica, contemplativa, temporal e a intuição momentânea. Outra vez, não houve quem se destacasse mais nesse sentido do que o Nico. Também houve génio do Fábio.
O problema é que o talento individual também tem laços com a intermitência e, quando não há suporte colectivo para o incentivar, não aparece com a constância que queríamos.
No entanto, nos momentos sem bola, evidenciou-se um conforto, já habitual, dos belgas na saída em construção e também na facilidade em serem verticais, superar linhas de pressão e chegar em zonas de definição.
Foi voluntário e assumido porque não houve vontade em realmente procurar o erro contrário em zona de risco através duma pressão alta. Foram escassas as vezes onde se procurou igualar numéricas e demasiadas aquelas em que Samu era o único elemento perturbador (pelo menos na intenção).
O vídeo destaca várias sequências que o Porto nunca conseguiu tornar factível. Só na variabilidade na saída houve um desnível colossal (também por culpa própria, pela postura que se assumiu).
Houve diretrizes colectivas globais que induziam mais o especulativo do que o pró-activo. O corolário disto foi algumas falhas na atitude e foco dos que conformam as linhas de pressão (deixando o Anderlecht gerar situações benéficas para encarar o jogo de frente atrás dos que pressionam.)
Como é que é possível conceder esse protagonismo ao guarda redes duma equipa, cuja qualidade, individual pelo menos, não nos é em nada superior ?
Pergunta retórica acerca dum jogo que não permitiu qualquer consolação.
Só serviu para ampliar a frustração (exponencial) que nasce, sobretudo, quando se olha para a qualidade de várias individualidades e as contrastamos com a cobardia colectiva (inelutável) nas intenções, independentemente da suposta superioridade (ou não) do adversário.
A nomeação do Vitor exigia paciência, sobretudo pelo período de transição pós Conceição mas, neste clube, existem critérios inegociáveis. Dentro e fora das quatro linhas. E ele falhou acerca de muitos, em ambos.